terça-feira, março 04, 2008

Eleições em Espanha


Aproximam-se as eleições para as Cortes Espanholas, como igual confronto de 2004: Zapatero x Rajoy. Devo dizer que nenhum deles é senhor das minhas simpatias. O actual Presidente do Governo, ou o "Bambi", como é conhecido, chegou ao executivo de forma totalmente inesperada, por causa da péssima gestão dos atentados terroristas de 2004 pelos Populares. Pôs então em prática a sua "agenda modernizadora", com a legalização dos casamentos e até da adopção de crianças por casais homossexuais, a simplificação do divórcio, o afrontamento à Igreja Católica, o apaziguamento e os acordos com terrositas sem remissão e a insensata Lei da Memória Histórica, que no fundo toma partido por uma das facções da Guerra civil, como no regime franquista, mas pela outra parte. Num país onde as feridas do fratricida combate de 36/39 nunca sararam totalmente, Zapatero atira gasolina para a fogueira, não sei se de propósito, se inconscientemente. A Constituição de 1977 aprovou o regime democrático sob a monarquia, no pressuposto de que os vencidos da Guerra civil não o eram mais, e de que as referências dos nacionalistas deixariam de ser as do Estado Espanhol. Por outras palavras, a Guerra só ali terminava verdadeiramente, num pacto de paz aposta pela esmagadora maioria dos espanhóis, cujo principal símbolo era a legalização do Partido Comunista. A nova Lei recentemente aprovada desrespeita o espírito da Constituição e pode trazer consequências nefastas ao complicado caldo político que se vive no país, atravessado por regionalismos extremos.

Do outro lado, Rajoy, que esteve a dois passos de ser Prsidente do Governo em 2004, por escolha pessoal de Aznar, não parece ter aprendido muito. Nestes quatro anos, o seu PP instrumentalizou muitas das manifestações de rua contra o governo e a sua política face ao terrorismo, transformando-as em comícios não-oficiais. Nunca reconheceu os erros que lhe tiraram a vitória, nomeadamente o tríptico de mentiras Prestige - Iraque - Atentados (eram da ETA, lembram-se?), conduzidas da pior forma. Se Zapatero merecia caír do seu lugar, este galego castelhanizado jamais merecia lá chegar.

Estas eleições deverão confirmar também o extremar das forças políticas presentes. À parte os dois principais partidos, o resto são movimentos regionalistas/nacionalistas, como o velho Partido Nacionalista Vasco, a CIU, o Bloco Galego e outros, da Cantábria às Canárias. O centro, herdeiro da UCD de Suarez, é irrelevante ou deixou-se engolir pelo PP; a Izquierda Unida, mistura de Bloco de Esquerda com CDU, que alberga o outrora pujante PCE, pode ficar mesmo sem representação parlamentar (Saramago já declarou que apoiava o PSOE); novidade só mesmo o novo movimento anti-nacionalista apadrinhado por Fernando Savater, cujo sucesso, dado o seu vazio ideológico, é duvidoso.

Tendo em conta que os movimentos herdeiros do franquismo, como os Carlistas e a Falange, são residuais, conclui-se que a política partidária em Espanha está totalmente bipolarizada entre os dois maiores partidos. E que as franjas mais radicais herdeiras dos ferozes antagonistas dos anos trinta foram por eles engolidos. Mais do que a conversão à moderação, pode significar o extremar de poisções entre dois blocos, coisa quw já se verifica. Os tempos de Gonzalez, em que o PSOE era um partido socialista moderado, adepto da CEE e da NATO e recusando o marxismo, ou aquele em que um deconhecido Aznar transformou a velha Aliança Popular de Fraga Iribarne num moderno partido de centro-direita, já lá vão. Não é crível que volte a haver novo confronto armado (está lá o soft power da UE), mas o antagonismo que se verifica, e em que não faltam confrontos ente anarquistas gedelhudos e falangistas de braço erguido, é tudo menos saudável, mormente agora que se espera que a economia espanhola quebre consideravelmente. O PSOE deverá novamente ganhar sem maioria, e os próximos anos serão de mais "modernização da sociedade" e paz podre. E depois? Intervirá de novo Juan Carlos I nos destinos da sua nação?

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