quinta-feira, abril 10, 2008

O cinema de luto
O último mês acaba por ser um autêntico velório cinematográfico. Arthur C. Clarke antes da Páscoa. Não sendo um leitor de ficção científica, a sua obra apenas me chegou através do kubrickiano e a todos os títulos magnífico (mas também inquietante) 2001: Odisseia no Espaço. Mais ou menos no mesmo dia uma operação à partida sem problemas levou-nos Anthony Minghella, realizador que tinha ressuscitado os clássicos românticos com O Paciente Inglês, voltado a Itália com o remake de O Talentoso Mr. Ripley, e de que no ano passado nos tinha chegado um interessante Assalto e Intromissão, que não teve a repercussão que certamente merecia.
Agora, e com cinco dias de intervalo, perderam-se mais dois nomes do cinema: Charlton Heston e Jules Dassin.
O primeiro quase dispensa apresentações, tantas foram as vezes que os filmes que protagonizou passaram pelo pequeno ecrã. Conhecido pelos seus épicos, o filme que normalmente se alude à laia de lembrança é Ben Hur, com o qual ganhou o Óscar de melhor actor em 1959. Mais depressa recordo Os Dez Mandamentos, o correspondente à Barragem de Assuão das telas, quase impossível de se ver seguido na totalidade (só consegui uma vez, depois de umas quantas tentativas), obra que deu estatuto lendário e megalómano a Cecil B. de Mille. Nos últimos anos era notícia sobretudo por ser o presidente do controverso American Rifle Association, que defende o uso das armas pelo cidadão comum, na prossecução de um ideal caro aos americanos. Passou pela última vez nas telas como o moribundo macaco do do file de Tim Burton Planeta dos Macacos, remake de um filme de que ele próprio tinha sido protagonista.
Jules Dassi teve um percurso diferente. Nos Estados Unidos realizou vários Film Noir, mas com a política de perseguição McCarthista emigrou para a França e Grécia, onde realizou filmes como Topkapi, e sobretudo Nunca aos Domingos, do qual era protagonista, mas de onde quase se viu arredado pela inesquecível Melina Mercouri, com quem viria a casar anos mais tarde, e pela sua banda sonora retratando a vida popular no Pireu.
Março e Abril "só" nos levaram estas memórias vivas do cinema.

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