terça-feira, agosto 12, 2008

Os custos da superpotência

















Os Jogos Olímpicos de Pequim, sumptuosa e megalomanamente inaugurados há poucos dias, recordam-me outros eventos desportivos realizados na Alemanha, em períodos e contextos bastante distintos. Pela blogoesfera fora nota-se a mesma ideia.
A superpotência ascendente chinesa pretende "cumprir o seu destino" e redimir-se dos anos em que teve a oportunidade se expandir para o exterior e preferiu dedicar-se ao seu domínio regional. Depois de se vergar perante ocidentais e japoneses, servindo de objecto aos sentimentos expansionistas de outros, ultrapassado o equívoco maoísta, hoje mero objecto de decoração, e as sinistras memórias da Revolução Cultural, a China levantou-se. Tornou-se um centro industrial e financeiro, deu às suas cidades uma imagem vertical, invadiu os mercados - e as universidades - ocidentais com os seus produtos e tem levado as suas ambições a África e à América do Sul. A mistura da influência de Confúcio, Marx e Adam Smith tornou o velho Império do Meio numa potência global. Que como todas que emergem, quer demonstrar o seu poderio com uma grande celebração de abundantes doses de espectáculo e riqueza.

Mas entre as demonstrações de grandeza (ou de tamanho?) de uma potência autoritária há sempre os engulhos e as pedras no sapato. Os protestos contra a situação no Tibete, que duram há vários meses, são o exemplo mais conhecido. Para lá de todo o show-off, recordam que estamos perante um país que executa centenas de presos por ano, que continua a limitar e perseguir cultos, como a Católica, e a exercer o controle sobre territórios que controlou pela força. São a "chatice" mediática que incomoda a China e os seus poderes, e que de certa maneira lembra Berlim em 1936. A aposta na conquista da maioria das medalhas, sobretudo sobre os EUA, mostram bem esse desesperado desejo de afirmação. E as declarações de chineses anónimos, do seu orgulho pela "demonstração de poder", é o eco desse desejo, arranhado pelos manifestantes pró-Tibete.

O outro aborrecimento são os atentados contra forças policiais que se têm verificado nos confins do sudoeste chinês, nas regiões maioritariamente muçulmanas, que pretendem impôr a Sharia nesses territórios. São um ténue beliscão no grande evento desportivo, mas o seu eventual agravamento pode ser incomodativo. Atentados nos Jogos, como os que aconteceram em Munique em 1972, é a última coisa que as autoridades chinesas pretendem ver. Mas há preços a pagar para se ser uma superpotência. A ameaça do terrorismo global, mormente o islâmico, e a sua concretização, é um desses custos modernos que há que suportar em troca da visibilidade do seu poderio.

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