quarta-feira, dezembro 24, 2008

O costume dos protestos gregos





Os distúrbios prosseguem na Grécia. Talvez o Natal consiga aplacar o caos reinante, mas há em terras helenas um rasto de destruição, de feridos, presos e tensão. Para além da morte do manifestante de quinze anos, o detonador de toda esta Intifada à grega, misturam-se os problemas do país, que em grande parte são os do Mundo. Todos têm uma causa para explicar os motins: a crise financeira, o desemprego, a corrupção, a falta de oportunidades, o "autoritarismo" da polícia, etc. Acrescente-se o coração do problema, o bairro ateniense de Exárchia, onde param enxames da extrema-esquerda e de anarquistas, cerne da violência destruidora. É um facto que os ânimos se exaltam com os problemas sociais e económicos actuais, e que prometem aumentar. E nos grandes partidos gregos, sucedem-se, desde antes do regime dos coronéis, os dirigentes das grandes dinastias, como os Papandreou e os Karamanlis, cujo último exemplar preside ao governo grego. O país tem vivido alguns momentos mais duros, como os calamitosos incêndios do ano passado. Nestas condições, um episódio mais grave e a revolta de uns quantos anarquistas podem ser a acendalha para fazer irromper a onda de destruição e protesto que se tem verificado.


Acrescento-lhe, no entanto uma outra: a predisposição natural dos gregos para as manifestações violentas e maciças. Não sei se é um "costume" que vem da altura do regime dos coronéis ou antes, mas o que é facto é que na Grécia não faltam exemplos de exaltações populares, embora as deste ano sejam particularmente violentas. Em 2003, aquando da invasão do Iraque, as primeira manifestações começaram logo na noite do início das operações militares, com apedrejamentos à embaixada americana e iraquianos a perfilar-se com as suas bandeiras (ainda hei de postar uma foto com isso). Dias depois, um gigantesco protesto, com a anuência do governo, praticamente impedia ou dificultava a entrada e a saída da cidade. Quem lá fosse antes das manifestações teria de amargar até que tudo aquilo acabasse. E nos dias que se seguiram, não faltaram novas manifestações, e na Praça Sintagma via-se um enorme lençol pintado de vermelho com caracteres anti-guerra.

Sejam quais forem as razões da violência nas ruas, é altamente improvável que os manifestantes obtenham um resultado vantajoso. Não sendo a Grécia actual uma Tirania, não há razões para a violência dos motins contra um governo com legitimidade democrática. E é duvidosos que a maioria da população goste muito de ver os seus carros e os centros das cidades a arder. Não se percebe bem o que é que a maioria destes anarquistas ou candidatos a isso quer - provavelmente a violência é um fim em si mesmo, para andar à pancada - e se o governo cair, convocam-se novas eleições e o mais certo é a Nova Democracia regressar ao poder. Se é para melhorar alguma coisa a nível económico, depois da destruição de edifícios, bancos e outros estabelecimentos, e da ocupação de universidades, só se a construção civil tiver alguma incremento para algumas reconstruções, porque tais actos só devem ter assustado os investidores e consumidores. O problema é que essa gente não parece ser particularmente inteligente. Talvez nas obras se safem, e dêem o tal empurrão à construção. Quem sabe destruir deve aprender a reconstruir, tal como as crianças pequenas.
PS: as minhas suspeitas tinham fundamento. Afinal, é mesmo anterior aos coronéis. O Guardian também acha:
Rebellion is deeply embedded in the Greek psyche. The students and school children who are now laying siege to police stations and trying to bring down the government are undergoing a rite of passage.

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