terça-feira, junho 16, 2009

Provincianismos pseudo-urbanos

Ainda do Minho desiludi-me com o novo figurino da velha estrada entre Moledo e Vila Praia de Âncora. Repararam o pavimento que estava muito gasto e fizeram uma ciclovia, o que se aceita (apesar de eu ter feito dezenas de vezes aquele troço de bicicleta sem o menor problema). Pena é que o carácter rural nocturno tenha desaparecido com as dezenas de novos candeeiros eléctricos plantados de dois em dois metros, estrada fora. Transformou-se uma estrada bucólica numa avenida sem casas e para mais gasta-se imensa electricidade. E é para isto que se anda a montar parques eólicos no alto das serras. Ah, o progresso, o desejo de ser urbano e moderno de qualquer forma...


Outra demonstração da ânsia de "urbanidade" são as novas cidades e vilas. As candidatas ao galardão urbano lá conseguiram o seu objectivo: Senhora da Hora (tinha mesmo necessidade de vida urbana, com o Porto e Matosinhos do outro lado da estrada), Samora Correia, Borba, Valença e S. Pedro do Sul(!) são agora cidades. Os meus pequenos parabéns, mas tirando, e a muito custo, Valença (já que a única cidade do seu distrito era até agora Viana), considero que nenhuma delas o mereceria ser. Aliás, freguesia alguma deveria ser cidade, por maior que fosse. E os critérios de atribuição (sobretudo os "históricos, culturais e arquitectónicos") deviam ser mais rigorosos. Para já, reina a total discricionariedade.


Por causa desta vontade sem razão, vemos vilas medianas a alcançar este estatuto sem razão aparente. Já aqui deixei alguns exemplos. Dá-me arrepios só de pensar nas próximas a ser promovidas. Mais uma vez, a ânsia de ser urbano a todo o custo, de se poder dizer que se é "da cidade", de fugir da ruralidade como o diabo da cruz, leva não só a estes disparates como ao êxodo para os grandes centros urbanos, geralmente para os subúrbios, que crescem na directa proporção da desertificação dos centros. Um erro provinciano de resultados desastrosos. Como se viver numa aldeia ou vila, às vezes com outra qualidade de vida, fosse por si só uma vergonha. Provavelmente até o será, segundo a mentalidade pequeno-burguesa que converteu automaticamente a ruralidade em "atraso" e a vida urbana definitivamente em "evolução". Joguinhos semânticos mascarados de progresso, não percebendo que o mundo rural e o urbano são diferentes sem serem necessariamente inferiores ou superiores. E que além do mais foram os responsáveis por grande parte da destruição patrimonial do país, à boleia com o desaparecimento progressivo do espaço rural.

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