terça-feira, dezembro 22, 2009

A última revolução violenta



Há precisamente vinte anos dava-se a última revolução sangrenta da Europa. Foi o culminar da derrocada do Bloco de Leste nos últimos meses de 1989. Depois de todas as outras "democracias populares" ligadas ao Pacto de Varsóvia caírem, só restava a Roménia, paradoxalmente o mais independente regime do bloco face à URSS, e ao mesmo tempo o mais paranóico, megalómano e controlado. Décadas de projectos de expansão industrial com vista à autonomia energética e de obras faraónicas em contraponto com estrito rigor orçamental no que tocava aos bens essenciais, insufladas por um culto de personalidade a Ceausescu, levaram à explosão social e às primeiras revoltas em Timisoara, perto da Hungria, de onde sopravam os ventos de mudança.

As autoridades reagiram com toda a dureza possível, alvejando os manifestantes, o que multiplicou a revolta. A 21 de Dezembro, o ditador convocou um aparatoso comício de apoio na capital, em frente ao Palácio do Povo, o enorme edifício que congregava os vários poderes, símbolo máximo daquele regime totalitário que não hesitou em destruir o centro histórico de Bucareste. Às primeiras palavras que correram na imensa praça fronteira, recebeu aplausos dos apoiantes, sobretudo da Securitate, a polícia política. A pouco e pouco, os manifestantes começaram a entoar gritos de protesto entre a multidão, e como uma bola de neve os apupos aumentaram, até o povo gritar em uníssono "Timisoara" e "abaixo o tirano". impotente, Ceausescu retirou-se do local e ordenou que as forças de segurança ripostassem. As tropas pretorianas leais ao regime dispararam sobre a multidão, espalhando o caos no centro da capital, mas as forças regulares não se moveram. a reacção apenas gerou mais revolta por parte da população, à qual se começaram a juntar unidades militares.

Fechado no seu "bunker" Ceausescu não se decidia a fugir pelos inúmeros subterrâneos do palácio, quando a situação piorou para o seu lado, e incapaz de aceitar a queda iminente ou sequer de negociar, decidiu fugir de helicóptero com a sua mulher, Elena, e dois ou três fieis. A fuga. No dia 22, foi vista por todos e registada, mas ou por engano, ou por dificuldades mecânicas, o aparelho aterrou na cidade de Targoviste. Prisioneiro, o casal Ceausescu passou uma noite no calabouço, antes de enfrentar um julgamento militar sumário que acusou o ditador de tentativa de genocídio e de "roubar a alma da Roménia". Este ripostou com acusações aos traidores "fascistas e anti-nacionalistas". Lida a sentença de morte, um pelotão de fuzilamento levou para fora e metralhou Nicolae e Elena, que permaneceram juntos no fim, recordando Mussolini e Clara Pettaci. O fim dos Ceausescu foi proporcional ao regime de opressão, miséria e estalinismo que instituiu na Roménia. O anterior Conducator romeno, Ion Antonescu, líder de um governo aliado de Hitler, fora também ele fuzilado após a guerra. Agora, a mesma sorte cabia ao intitulado Conducator comunista, na manhã do dia de Natal de 1989. As imagens dos corpos dos Ceausescu correram mundo, e torjnar-se-iam o símbolo e a prova de toda a violência e fúria que por aqueles dias atravessaram o país.
Seguiu-se um governo nacional com figuras recicladas e vagamente opostas ao ex-ditador. A década de noventa seria conturbada e difícil e só recentemente o país obteve algumas melhorias sociais e económicas, o que lhe permitiu, com reservas, aderir à União Europeia em 2007. Quanto à herança de Ceausescu, basta ir ao centro de Bucareste para se avistar a sua marca mais visível.

Nenhum comentário: