terça-feira, maio 29, 2012

Sintomas relváticos (e socráticos)



O caso Relvas - Secretas - Público continua a dar que falar. Ao que parece, o ministro não se limitava a receber mails de Jorge Silva Carvalho, aos quais "não respondia". Mas na última semana assistiram-se a alguns episódios sintomáticos - diferentes mas todos com a mesma génese.

A ligação de Miguel Relvas a Silva Carvalho é já de si preocupante. Recorda-nos que as ligações do poder a sectores mais obscuros é quase uma (triste) inevitabilidade, e neste caso há todo uma rede que envolve um coktail explosivo de empresas de comunicação social, maçonarias e serviços secretos. Pior era difícil.

As pressões entre Relvas e o Público mostram-nos que os governos passam, mas a tentativa de controlar a comunicação social permanece. Já tínhamos assistido a um esboço de agência governamental de notícias com Santana. Nos governos de Sócrates, houve "bulliyng" sobre jornais, como o mesmo Público (caso da Universidade Independente), e a tentativa de abocanhar a TVI, entre outros. Agora é isto: novo ataque ao Público, com as pressões a Maria José Oliveira e as ameaças de revelações da vida privada. Na Madeira passam-se coisas ainda piores, e até a Câmara do Porto cede por vezes à tentação de encarar a comunicação social como uma qualquer força de bloqueio. Quando teremos um governo com menos vícios de controleiro?

Outro sintoma: haverá sempre quem defenda os superiores hierárquicos, dependendo do partido em que estiverem? A discussão entre o Estado Sentido e o 31 da Armada revelou algumas fracturas entre apoiantes dos partidos da maioria, ou seja, aqueles que a defendem até à medula, seja quem for a figura em causa, e os que não querem ver as medidas socráticas tornarem-se relváticas. Também no Insurgente houve algumas contribuições com interesse, em claro contraste dos que se apressaram a ver nesta questão uma conspiração "das esquerdas" para tramar Relvas, ou que resolveram fazer passar o Público como um orgão de comunicação socrático, esquecendo-se quem é que tomou a dianteira na investigação do caso da Independente. Como se vê, o vírus dos Abrantes espalha-se por todo o lado onde haja poderes incomodados com necessidade de se proteger a todo o custo. Felizmente, nem todos os que opinam nos blogues ficaram subitamente cegos com uma venda da sua cor política. É por isso que a blogoesfera continua a ser um espaço privilegiado de pluralismo, liberdade, discussão, e já agora, boa escrita, como não há mais nenhum...mesmo que seja parte da causa da crise que a imprensa escrita atravessa nos dias de hoje.

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