terça-feira, junho 05, 2012

Alegrias futebolísticas


Acabada a época de futebol (de clubes), depois de enumerar as tristezas, e antes que o tal Euro na Ucrânia-Polónia comece, é justo referir as alegrias que a bola trouxe este ano. Não que as houvesse em grande quantidade, mas é justo recordar algumas coisas.

A mais mediática, e que me deu especial prazer, foi a vitória in extremis do Manchester City no campeonato inglês. Não que eu torça pelos "vizinhos barulhentos" azuis do United, até porque é daqueles clubes com fundos sem fundo, patrocinados por sheiks do petróleo, uma espécie que não faz nada bem ao desporto, pela forma como inflaciona os custos e é nociva para a concorrência. Mas gosto sempre quando há uma quebra de hegemonias - neste caso da equipa de Alex Fergusson - e quando equipas há muito afastadas dos títulos a eles regressam. Os citizens, equipa da maior parte dos habitantes de Manchester e dos irmãos Gallagher, depois do investimento brutal em jogadores nos últimos três anos, conseguiram chegar ao almejado título quando as coisas pareciam ir pelo cano abaixo. Estar a ganhar, em casa, depois sofrer o empate, passar a estar a perder, e nos minutos dos descontos, marcar o golo do empate e no último lance possível, o da vitória, que lhes dava o título maior, é coisa para deixar um estádio inteiro com sérios problemas cardíacos. Tanta emoção nem em 1989, quando ao minuto 89 Michael Thomas marcou o golo que dava ao Arsenal o título que não conseguiam há 18 anos, e no terreno do adversário directo, o Liverpool (o episódio ficou registado em Fever Pitch, de Nick Hornby ). Mas os segundos decisivos, cruéis mas intensos e felicíssimos, devolveram a alegria a um clube que dela estava precisado depois de anos a fio recebendo o desprezo dos vizinhos do United. Irónico que muitos terão festejado intensamente um golo de Aguero, genro de Maradona, que há vinte e tal anos se tornou provavelmente no homem mais odiado pelos ingleses.

Por falar em Maradona, outra das coisas a que achei piada foi a vitória do Nápoles na Copa Itália. O grande clube do sul de Itália não ganhava quaisquer títulos há mais de vinte anos. Aliás, desde a saída do Pibe passou por uma fase de decadência que o levou à segunda divisão e à bancarrota, conseguindo após alguns anos regressar à primeira, depois ás competições europeias (teve a honra de ser eliminado pelo Benfica num jogo memorável na Luz) e finalmente à Liga dos Campeões, onde se impôes este ano, e de onde acabou por ser eliminado algo surpreendentemente pelo Chelsea nos oitavos de final. O clube é agora presidido pelo produtor de cinema Aurelio de Laurentiis, sobrinho do mítico Dino de Laurentiis, goza de boa saúde desportiva e financeira e tem um enorme apoio popular. E conseguiu um feito: bater a Juventus, equipa que estava invicta em todas as competições e que este ano reconquistou o Scudetto, no último jogo possível (que marcou a despedida de Del Piero). com um temível ataque formado por Hamsik, Lavezzi e pelo extraordinário avançado-centro uruguaio Cavani, nem parece tão complicado. Mas era, e permitiu que o clube da decadente Nápoles e do sul empobrecido conseguisse ser o único a bater o mais titulado clube italiano, representante setentrional da indústria rica do Piemonte, propriedade dos Agnelli, quase mais francês que italiano. Diga-se no entanto que o regresso da Vecchia Signora de Turim aos títulos, depois de anos de abalo na penumbra por causa do Calciocaos, também é motivo de alegria para este blogue.



Outra motivo para festejar, embora tenha passado quase despercebido fora do seu país (com pequenas excepções): ao fim de trinta anos a vegetar nas divisões secundárias, o lendário Stade de Reims voltou à primeira divisão francesa. Quem conhecer minimamente a história do desporto-rei saberá que este clube, da capital de Champagne (uma cidade que nem é muito grande, à sombra da sua antiquíssima catedral), que dominou o futebol francês entre os anos quarenta e cinquenta, tinha  também uma das equipas mais fortes da Europa nessa época, competindo directamente com o todo-poderoso Real Madrid. Pensa-se até que a Taça dos Campeões europeus foi criada pelo jornal L ´ Equipe propositadamente para que o Reims ganhasse o troféu, que lhe daria a glória no Velho Continente. E a primeira final, em Paris, em 1955, quase que lhe deu a Taça, mas não conseguiu superar o Real Madrid, num fantástico jogo que acabou 4-3 para os merengues. Em 1959, nova final, mesmo adversário, e igual sorte. Entretanto tinha ganho uma Taça Latina, na Luz, frente ao Milan. Ostentava um futebol tecnicista, rendilhado, todo virado para o ataque, onde pontificavam Kopa e Just Fontaine, melhor marcador do Mundial de 1958, com 13 golos, um recorde que permanece imbatível. Depois da sua partida, assistiu-se a um delcínio abrupto e inexorável do clube, que caiu na bancarrota (teve de vender os troféus) e andou pelas divisões regionais, até começar a se recompôr. Esta época, enfim, ao fim de trinta anos, o histórico clube de Champagne regressa ao lugar onde devia estar há muito tempo, onde poderá defrontar Marselha, PSG e Saint-Etienne, que só alcançaram a glória depois de viverem na sombra do Reims.




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