quinta-feira, agosto 23, 2012

Fanáticos do nosso tempo


Na semana passada registaram-se duas situações paradigmáticas do maior grupo de fanáticos da nossa era. Num apartamento do Porto, um cão mordeu e matou uma criança de ano e meio. Imediatamente, a Associação animal veio queixar-se de que "diabolizavam animais sem culpa nenhuma" e que "o caso acabaria com a morte de dois inocentes" (a criança e o cão). Para quem tanto se bate pelos direitos dos animais, a desculpabilização ultrapassa o absurdo: os cães têm direitos, mas quando têm comportamentos agressivos a culpa cabe apenas e só aos donos, sendo que os animais são "inocentes". São sujeitos de direitos mas totalmente inimputáveis. Reparem como há aqui mais lamentos pela sorte do cão do que da criança.

Neste fim de semana, nas Festas da Senhora da Agonia, voltaram as corridas de Touros a Viana do Castelo, numa arena amovível montada nos campos da Areosa. As opiniões dividiram-se violentamente: os aficionados da Festa Brava aplaudiram ruidosamente, os adversários protestaram e convocaram várias manifestações de desagrado, encabeçados pela dita associação Animal e por Defensor Moura, ex-presidente da câmara de Viana e, como todos se lembrarão, ex-candidato à presidência da república não se sabe bem porquê. Como se sabe, Defensor conseguiu aprovar, em 2009, em reunião camarária, um regulamento que tornava Viana do Castelo em "município anti-touradas". Sempre achei esta regra bastante descabida, porque não só contrariava as leis nacionais como transpunha as convicções pessoais de um autarca para todo um município, proibindo uma tradição antiga em Viana e obrigando os seus habitantes a declarar-se anti-touradas. Precisamente por isto é que a associação PróToiro obteve o deferimento de uma providência cautelar, suspendendo tal deliberação camarária e permitindo a realização da corrida.
 
No Domingo, entre ameaças, manifs, urros e insultos, a corrida teve mesmo lugar. Contou com perto de 2500 assistentes. Cá fora, 300 manifestantes gritavam contra. A comunicação social (a que eu vi, ao menos), noticiou o evento de forma bastante parcial. A RTP, televisão pública, apresentou uma peça mostrando que "os vianenses estavam contra a corrida" (entrevistou apenas cinco). Os jornais mostravam apenas os manifestantes anti-tourada, e as opiniões dos editores iam no sentido de que a proibição de um "espectáculo bárbaro" tinha toda a razão de ser.
 
Não sou propriamente aficcionado nem nunca assisti a uma tourada, mas estando bastante próximo de Viana, tive ganas de ir a esta (só não fui porque o excelente dia de praia me impediu). Não vejo qualquer ilicitude nestes espectáculos. Ninguém estima e conhece bem os touros do que quem com eles lida, ao contrário de muitos auto-denominados "amigos dos animais". É um espectáculo com o seu quê de primitivismo e violência, mas demonstrativo de coragem, do simbolismo do confronto entre um homem e um animal, e que tanto inspirou inúmeros artistas  ao longo dos séculos. Há quem seja grande apreciador e quem abomine. Ninguém é obrigado a ver, da mesma forma que ninguém deve ser obrigado a não ver. Por isso, acho que qualquer regra que declare parte do território nacional como "anti-touradas" é abusiva e totalitária.

Sobre a tal Associação Animal, vejam-se os perfis dos seus dirigentes mais visíveis: são vegans, e como tal, acham que «é inconcebível partilhar casa com um carnívoro, quanto mais namorar ou casar(...) É nojenta a ideia de beijar alguém que esteve a degustar alegremente um animal morto. Seria pactuar com algo altamente imoral». Cada vez mais acho que os defensores mais radicais dos direitos dos animais são os grandes fanáticos do nosso tempo. Já chegaram a matar (lembram-se de Pim Fortuyn e do seu assassino?), mas por aqui limitam-se às ameaças cada vez que há um espectáculo taurino. Tratar bem os animais? Sem dúvida. O problema é quando há uns extremistas que querem fazer a "equiparação da espécie", quais Calígulas e o seu cavalo-senador. Adolf Hitler, aliás, também encaixava nos pressupostos. É bom que se dê alguma atenção a estes indivíduos, e já agora, que se pergunte o que fariam aos animais carnívoros. Obrigá-los-iam a comer vegetais?
 

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