segunda-feira, outubro 01, 2012

O perigo da agitação espanhola



Muito boas almas, a começar pelas das televisões, ficaram entusiasmadas com as manifestações que se verificaram em Espanha na última semana. Ao que parece, o "povo" saiu à rua e cercou o parlamento porque os políticos "não os representam" e para exigir "verdadeira democracia", perante a "brutalidade policial". Desconheço em que mundo vivem  os que assim pensaram. No caso da comunicação social, vejo apenas o desejo que lançar a manchete e de conseguir aumentar as audiências a todo o preço. Se as revistas usam as vidas dos desgraçados da "casa dos Segredos, os outros recorrem às armas disponíveis.

O que se viu foram seis mil pessoas (num universo de milhões) numa manifestação ilegal, tentando invadir as Cortes, que se encontravam reunidas. Não estamos a falar de largas camadas representativas da população, e sim de franjas mais radicais, como se entendia pelas indumentárias e pelos símbolos (bandeiras republicanas, por exemplo), tentando fazer um descarado aproveitamento político da situação. Isso mesmo registou a mais conceituada imprensa espanhola, ao que parece mais sensata do que as nossas TVs, lembrando que o ataque ao parlamento nacional por uma minoria era um completo desrespeito pela vontade da maioria. Quanto à brutalidade policial, parece realmente ter havido alguns excessos da polícia, mas quando uma chusma de gente tenta à força entrar na sede do poder legislativo, quebrando todas as barreiras, o que se poderia esperar?

A insanidade dos manifestantes é mais um dado inquietante num país onde inquietações não faltam. A cada semana uma nova região administrativa pede auxílio ao governo central, revelando a enorme estupidez da existência de tantas divisões autonómicas para além das mais óbvias - pelas suas características culturais e linguísticas - e das províncias. Os bancos estão descapitalizados depois dos investimentos insensatos na bolha da construção civil, que após anos e anos de ilusões, estourou  deixando à vista condomínios e blocos habitacionais às moscas, sem ninguém que os compre, levando à falência as construtoras civis e as imobiliárias e aumentando ainda mais o assustador número do desemprego. A economia não cresce, os juros estão próximos do vermelho, o resgate das instituições europeias e financeiras está iminente. Rajoy parece que afinal não enganou quanto à sua falta de carisma e tacto, tomando medidas à bruta sem consultar ninguém, permitindo que as tensões sociais se avolumem, e nem ao menos conseguindo ser minimamente eficaz nas tentativas de negociação do mais que provável resgate. E depois, os problemas máximos, postos a nu por toda esta situação: a fractura ideológica da sociedade espanhola, esse monte de  ressentimentos que a Transição não conseguiu liquidar definitivamente; e a ameaça de secessão da Catalunha. Imaginam os catalães que vão conseguir separar-se do resto de Espanha rompendo com a Constituição de 1977, mantendo-se tranquilamente no Euro, gozando da sua (pretensa) exclusiva capacidade económica e até com os seus clubes a continuar a jogar na Liga espanhola de futebol como se nada se tivesse passado e não tivesse de sofrer quaisquer consequências pelo seu acto pouco reflectido. Ou seja, querem todas as vantagens e nenhuma das responsabilidades. Se levarem em frente a sua loucura revivalista de um obscuro condado medieval, talvez não demore muito tempo a arrependerem-se.
 
 
É este o perigo que ameaça a Europa, e muito particularmente Portugal. O de convulsões num país a braços com pré-avisos de separatismo, bancarrota financeira, velhos ódios de regresso à superfície, tudo isto sob a tutela de um governo inepto que age como um elefante na fábrica da Vista Alegre. Será bom recordar aos entusiastas das manifs das metástases dos "Indignados" que a Segunda Guerra teve o seu grande ensaio em Espanha, precisamente pelos ódios, violência e separatismos que varriam o país. Não os queiram repetir.

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