sexta-feira, janeiro 04, 2013

Notas sobre a Bulgária - a velha capital


Por incúria e esquecimento, a última parte da trilogia búlgara a que me dispus a escrever ficou parada em 2012. Tentarei consertar essa lamentável falta, depois dos dois anteriores posts acerca do país, começando 2013 colmatando falhas que vêm do ano que agora passou.
Na Bulgária, como disse anteriormente, não abunda a arquitectura militar. Há contudo alguns exemplares notáveis. Regressando da costa, de novo pela planície trácia, inflecte-se para Norte, atravessando montanhas e velhas aldeias meio escondidas. Nas proximidades fica o Vale das Rosas, cuja essência para a indústria de perfumes e cosméticos é uma das grandes exportações búlgaras. Por entre os montes Balcãs, encontra-se a cidade de Veliko Tarnovo.
Está longe de ser uma das maiores urbes do país, que já de si não são enormes, mas também não é um vilarejo perdido. A cidade propriamente dita assenta num promontório sobre o rio Yantra, afluente do Danúbio, marcada por uma cascata de casas e igrejas, alguma indústria pesada e o estádio onde o nosso conhecido Balakov deu os primeiros toques, na zona mais recente, e um pequeno centro histórico de ruelas empedradas e salpicadas de habitações de arquitectura revivalista búlgara, que em boa parte data do século XIX, na emergência do moderno estado búlgaro pós-otomano. Aos seus pés, nas margens do rio, espalha-se o bairro de Asenova, zona de artesãos.


 Só por isso a cidade já seria encantadora e digna de um passeio. Mas a sua grande marca, o seu grande legado, é a fortaleza de Tsarevets. Assente numa elevação separada da cidade pelo rio, rodeada por uma impressionante paisagem geológica que bem podia servir de cenário a Westerns, esta cidadela era o centro e o símbolo do poder político e espiritual búlgaro na Idade Média. Veliko Tarnovo era então a capital do Império Búlgaro, que ombreava com o vizinho bizantino e frequentemente entrava em guerra e derrotava as potências em redor, incluindo os cruzados que tinham saqueado Constantinopla na infame Quarta Cruzada. Atingiu o seu apogeu territorial e cultural durante o século XII.


Em Tsarevets, protegido por uma ponte fortificada, rodeado de uma extensa muralha e bastiões, ficava o palácio real dos Tsars búlgaros, além de diversos mosteiros e igrejas, e outros edifícios, como a torre onde se crê que esteve aprisionado o Imperador latino de Constantinopla, Balduíno, depois de derrotado e capturado pelos búlgaros. No alto do esporão rochoso que encima a colina situava-se a Catedral Patriarcal, sede do poder religioso e dos patriarcas da igreja búlgara, onde os Tsars eram coroados.



Em fins do século XIV, depois de um progressivo declínio do império, os otomanos cercaram Veliko Tarnovo. A cidade cairia após poucos meses. A batalha de Nicópolis, poucos anos depois, em que uma coligação de cruzados de diversas proveniências foi esmagadoramente derrotada pelos turcos, selou o fim definitivo do Império Búlgaro e permitiu que os otomanos ocupassem o seu território durante quase quinhentos anos e tomassem, meio século depois, Constantinopla. Tsarevets seria destruída e permaneceria um monte de ruínas até ao século XX, já com a Bulgária independente, altura em que a reconstruiram, embora nem sempre obedecendo ao modelo original.

A cidadela é uma marca do "idade do ouro" dos búlgaros e um dos monumentos mais impressionantes do país. Entre os séculos XII e XIV, no seu apogeu, deveria ser uma das urbes medievais mais interessantes da Europa. Hoje, Veliko Tarnovo permanece uma bela cidade com um cunho medievo e de forte significado nacional, um pouco como é Guimarães para nós, e combina a beleza natural e original da paisagem a respeitáveis monumentos. Na entrada da ponte pedregosa que liga Tsarevets à cidade, encontra-se um leão de pedra, o animal símbolo da Bulgária. Diz-se que embora não haja memória de tal animal naquele território, as tribos búlgaras que lá chegaram traziam relatos de leões e da autoridade que impunham. Desde então, o leão rampante tornou-se o símbolo do Império Búlgaro da Idade Média, do moderno estado búlgaro (incluindo o regime comunista) e da capital, Sófia. Embora a Bulgária tenha mudado muito ao longo dos séculos, com ocupantes diversos e prolongados, novidades étnicas e regimes políticos completamente diferentes dos anteriores, há alguns símbolos que não mudaram, ou que reemergiram: a igreja ortodoxa, o alfabeto cirílico e o leão como símbolo de coragem e autoridade.

Um comentário:

Therese disse...

This is cool!