quarta-feira, maio 01, 2013

Pelos Caminhos de Santiago


Passei esta semana sem blogar, o que por vezes é mentalmente higiénico, por força da minha peregrinação a Santiago de Compostela. Já lá tinha ido umas vezes de carro e por auto-estrada. A pé, submetido às intempéries, por caminhos com séculos e séculos, as coisas são bem diferentes.

Os Caminhos de Santiago são percorridos há mais de mil anos pelos peregrinos, aos quais devem essa mesma designação (per ager, pelos campos). Apesar da grande afluência e utilização, permanecem afastados das grandes rotas viárias modernas, que os pouparam, e em muitos troços não serão muito diferentes do que eram na Idade Média. Existem, como se sabe, muitos Caminhos de Santiago (o Inglês, o aragonês, os de Portugal, que são vários, o de Finisterra, etc), mas o mais frequentado, aquele que percorri, é o Caminho Francês, que começa em Saint-Jean-Pied-de-Port, passa para a mítica Roncesvalles e daí, por Pamplona, Burgos, Léon e Sarria, até Santiago. O Caminho assume muitas vezes forma de trilho florestal, o que é particularmente agradável quando as ávores são autóctones, ou de via campestre, não raras vezes coberta de lama ou quase leito de riacho, o que os torna complicados no Inverno.Ppelo meio, pequenas aldeolas de pedra,  que parecem esquecidas no tempo, mas que vivem graças ao Caminho, cada qual com o seu café-venda onde se acrescenta um novo carimbo à credencial do peregrino, necessária para se obter a Compostela, o certificado que atesta que se cumpriram mais de cem quilómetros a pé (duzentos se for a cavalo ou de bicicleta).
 
Encontram-se caminhantes das mais variadas nacionalidades, sobretudo espanhóis e irlandeses. A maioria por Fé e devoção, mas também por aventura, desafio ou quaisquer outras razões. Grande parte transporta a sua mochila, por vezes um bastão, e quase sempre a Vieira, símbolo inconfundível de Santiago, a par da sua Cruz. A solidariedade entre peregrinos é grande, e presume-se que a sua idoneidade também, tanto assim é que há vendas à beira do caminho onde se serve do produto e se deixa o valor...sem que haja um vendedor ou quem quer que seja que controle. Mas além dos grupos de caminhantes, há também os que fazem solitariamente, alguns deles singulares. Encontrar numa floresta um templário com as suas vestes pode levar-nos a pensar que recuámos ao Século XIII, mas não é impossível: alguns fazem-no, recordando os cavaleiros que outrora tinham como missão proteger os Caminhos, e deixam mesmo um registo bloguístico.


Depois de um caminho encantador mas exaustivo (e que deixa mazelas), a chegada à praça do Obradoiro (provavelmente uma das mais bonitas do mundo) e a contemplação da soberba catedral, com o Apóstolo a acenar-nos lá em cima, é gratificante. E se se apanhar a missa do peregrino mais ainda: entre os muitos caminhantes que assistem à homilia, agradecemos a protecção divina no caminho e contemplamos o Botafumero no seu pêndulo majestoso, a derramar incenso sobre os assistentes.

Depois, com o objectivo cumprido, abraça-se o Santo, apresentam-se as credenciais na Casa do Peregrino para que obter a Compostela, recuperam-se forças na taperia mais convidativa e começa-se a pensar em novo percurso numa data futura qualquer.

                       
                              O peregrino, escritor destas linhas, contempla a Catedral de Santiago, meta desta sua viagem

2 comentários:

Proximaventura2 disse...

Sou apaixanado pelos caminhos de Santiago, gostei do texto ke elaborou no Blog, muitos parabens. Meu sonho é realizar os caminhos franceses a pé. Força

João Pedro disse...

Então terá muito que andar, meu caro, mas está longe de ser uma proeza impossível: conheci quem os tivesse começado desde a etapa inicial. Boas andanças!