quinta-feira, abril 17, 2014

Uma vitória decisiva



Uma confissão que se impõe: tenho sido um homem de pouca fé em numerosas ocasiões dos últimos tempos. Não em Deus nem na Santíssima Trindade, mesmo que haja dias em que essa Fé esteja mais ou menos clara (Santa Teresa de Ávila explicaria melhor), mas no meu clube, o Benfica. Fruto das desilusões dos últimos anos, sem dúvida, e de acontecimentos que minaram a minha confiança. Nas coisas da bola sou supersticioso, e normalmente quando estou optimista as coisas saem ao contrário. Por exemplo, no ano passado estava convencido de que íamos sair das Antas com uma derrota. E quando entrámos nos empatados descontos, comecei enfim a crer que podíamos sair com um resultado satisfatório. Eis senão que o improvável Kelvin marca um golo saído do nada e de uma abada as coisas se alteram completamente. Nas semanas seguintes, tudo o que laboriosamente tinha sido construído pelo Benfica ruiu de forma trágica. E no início deste ano, parecia que a época se arrastaria tristonhamente, e que seríamos espectadores do confronto entre o Porto e o revitalizado Sporting.

Como se sabe, os acontecimentos seguiram outro rumo, particularmente neste segundo turno do campeonato, em que o Porto segue de desastre em desastre, o Sporting perdeu algum fulgor inicial, e o Benfica segue na frente quase imaculado, com oportunidade de ganhar mais taças e perto de um confronto com a Juventus. Ontem era um dia decisivo: perto de se tornar campeão, o Benfica recebia o FCP para a Taça de Portugal com a tarefa de dar a volta a uma derrota de 1-0 na primeira mão. As numerosas ausências já tornavam a missão bastante complicada. E a expulsão exagerada de Siqueira mais ainda, deixando o Benfica a ganhar por 1-0 mas a jogar uma hora com menos um. Mas os jogadores mostraram, para além da sua qualidade técnica, uma união, uma raça e uma vontade que ainda não lhes tinha visto. Mesmo em inferioridade numérica foram capazes de dar a volta ao jogo, e num ambiente absolutamente louco, André Gomes marcou um fabuloso golo que pôs o Benfica no Jamor. Mas a importância desta vitória passa além da própria Taça: revelou que o Benfica perdeu o temor ao Porto, que afastou os fantasmas dos últimos anos e que marcou uma posição que poderá ser importantíssima para o futuro. Tem a hipótese de ganhar mais troféus e retirou ao Porto a possibilidade de atenuar a desastrosa época que vem fazendo, incluindo a supertaça do próximo ano, onde por norma estão representados. Se isso significa que se mudou um ciclo no futebol português só se verá daqui a uns tempos. Mas se alguém ainda negava, ficou provado que o Benfica é sem sombra de dúvidas a melhor e mais confiante equipa portuguesa da actualidade. O duplo confronto com a Juventus será o grande teste internacional desta época.


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