quinta-feira, maio 29, 2014

No PS afiam-se espada e contam-se espingardas



Os dois partidos socialistas da península Ibérica passam por convulsões internas de monta. A diferença é que enquanto o PSOE já andava a arrastar-se há algum tempo e teve um resultado muito fraco nestas europeias, abaixo do do descredibilizado governo do PP, o que levou à demissão do secretário-geral Rubalcaba, que enquanto ministro do interior desmantelou a ETA, o PS português ganhou as eleições, meses depois de ganhar as autárquicas. À partida, deveria significar um reforço do partido face ao desgaste e à impopularidade do governo. Afinal, voltam-se a contar espingardas. Seguro, depois do delirante discurso da "grande vitória", vê-se de novo confrontado com a ameaça de António Costa.
Não é novo na política portuguesa que um líder partidário seja objecto de uma tentativa de derrube sem antes passar pela prova de umas legislativas (casos de Marques Mendes e Ribeiro e Castro), mas no PS tal nunca sucedeu. Houve demissões a meio do mandato por vontade dos próprios (Constâncio e Ferro Rodrigues), mas nunca por golpes palacianos.
Pode parecer uma facada da parte de Costa, mas punhamo-nos no seu lugar: Seguro é tão atractivo como um cacto e tem o carisma de um arbusto. Ao contrário do ex-homólogo espanhol, não tem obra que se visse. O resultado das europeias é pouco satisfatório. Provavelmente é a única hipótese que o edil de Lisboa tem de alcançar a liderança do PS e levá-lo a um resultado razoável nas próximas legislativas. Imaginar Seguro como primeiro-ministro, para mais em minoria, é aterrador. António Costa pode ser muitas vezes sobrevalorizado e com boa imprensa, mas tem bem mais sentido de estado, instinto e capacidade política que o secretário-geral que escolheram para o PS. E depois, falando em "traições partidárias", é bom recordar que na própria noite da derrota de 2011, mal Sócrates disse que se afastaria da vida política, de imediato Seguro disse, com um tom pomposo e um sorrisinho irritante, "a título oficial", que estava disponível para o que o partido precisasse. Como se fosse difícil adivinhar...O trabalho de sapa junto do aparelho estava feito, e não precisou de muito para vencer internamente Francisco Assis.

Resta saber se Seguro convocará o congresso extraordinário e irá à luta. Mas em qualquer situação o PS ganhará algumas feridas. Se não houver o tal congresso, a situação interna aprodecerá e poderá ser fatal para os objectivos do partido. Se for e derrotar Costa, reforçará em definitivo a sua posição, mas o combate causará sempre mossa. Se Costa lhe arrebatar a liderança, os apoiantes de Seguro não lhe perdoarão e causarão um ambiente de difícil respiração. Em qualquer dos casos, o PS vai passar por dias turbulentos. E Passos Coelho e Portas só esperam que esses dias sejam demorados.

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