domingo, junho 01, 2014

Não bastam eleiçõs para normalizar a Ucrânia


Com os combates a leste como fundo, a Ucrânia lá conseguiu realizar as suas eleições presidenciais. Como todas as sondagens previam, Petro Poroshenko, conhecido como o "rei do chocolate", já com importante experiência política, e apoiado pelo UDAR de Vitali Klitschko (por sua vez eleito presidente da câmara de Kiev) venceu por larga margem, tornando-se presidente da Ucrânia logo na primeira volta. A sua prioridade é acabar com as revoltas separatistas no leste do país e, se possível, recuperar a Crimeia. Se a segunda parece uma tarefa quase impossível, pelo empenho da Rússia na sua anexação, e pela maioria local que a suporta, a primeira é menos complicada. O plebiscito que tornou Donetsk e Luhansk em "repúblicas populares", organizado pelas milícias locais, não tem o apoio explícito da Rússia, que toma posições ambíguas. Na última semana houve confrontos violentos na região, que vive em autêntico estado de guerra: ocupação do aeroporto de Donetsk por parte dos separatistas (que sofreram inúmeras baixas na recuperação por parte das tropas ucranianas), abate de helicópteros da força área ucraniana, combates vários nas cidades, destruição de barricadas, etc. Poroshenko ainda não tomou posse, mas a luta pela expulsão dos separatistas já começou. Estes, por sua vez, com material de guerra pesado, reforços de voluntários vindos da Rússia, da Crimeia, e mesmo por inúmeros veteranos paramilitares tchetchenos (que outrora combateram a Rússia e que agora se lhes submeteram) e ossetas, mais chetnicks da Sérvia, gratos pelo apoio dado pelos russos nas guerras da ex-Jugoslávia, não se deixarão vencer com facilidade, até porque sentem as costas amparadas pela Rússia e para além da força bélica têm alguns trunfos na manga, como escudos humanos.

Entretanto, surgem dados curiosos que desmontam a pouco e pouco a propaganda massiva de que o poder de Kiev estaria tomado por neonazis e fascistas: os candidatos dos formações mais extremistas, como o Svoboda e o Pravy Sektor, tiveram em conjunto menos de 2%. E aparentemente, é a extrema-direita da Europa ocidental quem está com Vladimir Putin. Além da Frente Nationale de Mme LePen, os neofascistas e antissemitas Jobbik, da Hungria, e Aurora Dourada, da Grécia, também estão com o líder russo. Juntando-se assim aos nostálgicos comunistas, como o "nosso" PCP, ou o MRPP, que num dos seus sites firmava perentoriamente que "todos os operários europeus estavam com as autoproclamadas "repúblicas populares". Será temerário falar em nome de todos os operários, mas talvez os militantes do MRPP tenham alguma razão: afinal de contas, o operariado francês vota maioritariamente na Frente Nacional.
Toda esta crise ucraniana está para durar (e se não arrastar a Europa é um sorte), mas é comovente ver que, mais uma vez, les beaux esprits se reoncontrent...

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