segunda-feira, fevereiro 02, 2015

Setenta anos de A Bola


2015 só leva um mês mas já comemorou efemérides com números redondos. À cabeça, os setenta anos da libertação, ou do fim de Auschwitz. Como é assunto demasiado dramático e muito comentado nos últimos dias, fica só a nota, sobretudo numa época em que o anti-semitismo claramente continua vivo.

Houve outras comemorações de setenta anos, curiosamente. Há exactamente dez, no meu primeiro voo transatlântico, entretive-me, entre outras coisas, com uma revista, um suplemento desportivo especial com o título "Sessenta Figuras do Desporto Português" (ou coisa parecida) que aliás ainda tenho guardada algures. O número não era por acaso: servia para comemorar os sessenta anos de existência do jornal A Bola, essa bíblia do desporto nacional ("jornal de todos os desportos", é o seu subtítulo), fundada por Cândido de Oliveira, com os melhores colunistas e os melhores textos, e que ainda por cima é conotada com o Benfica, o que só a torna mais respeitável.

Tudo isso para lembrar que dez anos depois, há poucos dias, A Bola chegou aos setenta anos. Uma excelente idade para um jornal desportivo, que mantém toda a sua qualidade e até tem um canal de televisão próprio. Mas conserva ainda outra característica, que o distingue de todos os outros: é o único jornal que se mantém no Bairro Alto, essa Fleet Street lisboeta (em comum entre o castiço bairro de bares e tascos e a nobre rua londrina que leva à Catedral de S. Paulo só mesmo o facto de terem sido habitados por jornais) em versão inclinada e estreita. Todos os outros se foram para outras paragens, deixando traços na toponímia e no edificado - o mais notório é a antiga sede do extinto jornal O Século, que hoje é o Ministério do Ambiente. Só A Bola ficou, na Travessa da Queimada, como âncora da memória dos periódicos que faziam daquela zona o seu espaço natural. E também por isso está de parabéns.

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