quarta-feira, abril 15, 2015

Dez anos com a Casa da Música



A Casa da Música tem já dez anos. Alguns admiram-se com o facto de o edifício que mudou a rotunda da Boavista ter já alcançado uma década de idade, embora devessem admirar-se ainda mais com os seus quase 15 anos: afinal de contas, as primeiras previsões apontavam para a inauguração em Dezembro de 2000, nas vésperas do Porto se tornar Capital Europeia da Cultura de 2001. Tornou-se por isso mesmo um símbolo de despesismo, atrasos no cumprimento de prazos em infra-estruturas e esbanjamento de dinheiros públicos em obras de vulto, típicos dos anos de "vacas gordas". Esses anátemas, ligados a um certo sentimento de usurpação do espaço da antiga remise dos eléctricos na rotunda e à sua forma estranha e bojuda, enchendo completamente aquele espaço, levou a sentimentos de desconfiança e de desagrado de muitos.


Mas com os anos, a Casa da Música acabou por ser aceite e ocupar o seu lugar como símbolo do Porto contemporâneo. Começando, claro, pelos seus muitos e ecléticos concertos, que tanto misturam música erudita como música electrónica, Bach e John Cale, música sacra e os populares clubbings, que acabam com o bar/restaurante transformado em pista de dança ao som de um qualquer DJ que até pode ser Adolfo Luxúria Canibal, além de outras actividades (o bar dos artistas, com grandes janelas envidraçadas para a avenida, é muito procurada), sobretudo relaccionadas com a cidade, como o S. João. O prestígio que alcançou deve-se tanto aos seus programas como à arquitectura provocante de Rem Koolhaas. 
Nem tudo correu bem, mas a Casa da Música, dez anos depois da sua abertura, tornou-se um ex-líbris portuense e a instituição musical mais prestigiada do país. Poderemos sempre lamentar a destruição da estação dos eléctricos, que levou a enormes discussões no Porto, mas podemos também estabelecer comparações com o que aconteceu com o convento de S. Bento de Avé Maria e estação de S. Bento, que ocupou o seu lugar. Apesar da perda de um edifício de grande valor, construiu-se uma estação de comboios belíssima no seu lugar. O que se ganhou terá sido superior ao que se perdeu.


Ainda assim, podemos também pensar no que nunca chegou a ser. E se a localização ideal da Casa da Música não seria no Parque da Cidade, como chegou a ser defendido por Agostinho Ricca no seu projecto para um "palácio da música" naquela mesma zona.





2 comentários:

Anônimo disse...

Ficou muito bem!

É um ponto chave da nossa cidade.... e msm os edifícios da EDP, etc - tão contestados - são agora parte da cidade.

João Pedro disse...

Bem lembrado, os edifícios da EDP. Também provocaram alguma celeuma no início, quando se pensou que iam tapar a Casa da Música, mas conseguiram contornar a questão com elegância e agora até formam um conjunto interessante e dão uma enquadramento harmonioso ao edifício.