sábado, maio 09, 2015

O povo que canta: a televisão portuguesa a gostar dela própria


A RTP-2 está um portento de canal, e isso já vem de antes da mudança de direcção da estação. Séries de qualidade, documentários, programas de história, como o de Fernando Rosas (que puxa um pouco a brasa à sua sardinha, mas em compensação tem imagens fabulosas colhidas por drones), espaços de debate e informação como o já clássico Sociedade Civil, programas de desporto, religião, literatura, natureza, etc. Em suma, um autêntico serviço público televisivo que eu só espero que não alterem.


Um dos programas mais sugestivos e originais do canal, e talvez o melhor que anda por aí, é O Povo que Ainda Canta, uma espécie de braço televisivo do projecto de recolha de música tradicional A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (o site está parado, mas tem imensas coisas dignas de ser vistas e ouvidas, e há sobretudo a página do Facebook). Sob a direcção do seu mentor, Tiago Pereira, e de um conjunto de incansáveis colaboradores, o programa corre o país de lés a lés, quais Giacomettis do século XXI (que tinha uma emissão chamado Povo que Canta, vendo-se aqui uma homenagem explícita no actual programa, e em que por acaso até são entrevistadas pessoas que tiveram contacto e que deram elementos preciosos ao célebre etnógrafo corso), gravando, filmando e entrevistando tudo quanto seja música tradicional portuguesa.


Desde o fado da Mouraria até às tradições musicais do Nordeste transmontano, das chamarritas do Faial e Pico ás concertinas e castanholas do Alto Minho (com grande destaque à romaria de são João d ´Arga e conversas com o sr. Joaquim Barreiros, de Âncora, pai do famosíssimo Quim Barreiros, e que não sabia se seria ainda vivo), passando pelos gaiteiros da região de Coimbra, os adufes da Beira Baixa, os grupos musicais da Beira interior, o fandango ribatejano, o cante alentejano, e o que ainda mais virá, é todo um país que se descobre nas suas riquíssimas e variadas facetas musicais, algumas quase desconhecidas e que poderiam estar condenadas à extinção não fosse este enorme trabalho de recolha e divulgação. Um povo que ainda canta e que se redescobre. Para ver na RTP-2, nas noites de Quinta-Feira, com repetição ao Domingo. E se perderem algum episódio, podem-no descobrir e ver aqui. Acima de tudo vejam e ouçam. É a expressão mais genuína e mais viva de Portugal que está contida nestes pequenos episódios de menos de meia hora.


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