segunda-feira, agosto 17, 2015

O Verão na Beira interior



Andar pela Beira interior em pleno Agosto pode ser uma proposta interessante. Se for para trabalho rural, na terra, literalmente, mais ainda. O trabalho no campo não tira férias, há que limpar terrenos, regar culturas e em Setembro é tempo de colheitas. Tudo nas horas em que o calor aperta menos, ou seja, entre o meio da manhã e o meio da tarde o sol dá menos tréguas. Pelo meio, vê-se o fenómeno dos emigrantes de volta à terra, as festas populares, a animação cultural proporcionada pelos municípios, e testemunha-se, mesmo que à distância, o grande flagelo do Verão: os incêndios.
E claro, é também um oportunidade de conhecer vilas e aldeias da raia, normalmente fortificadas, muitas com o sufixo "castelo" no nome (Castelo Rodrigo, Castelo Mendo, Castelo Bom, Castelo Melhor), que depois de décadas ou séculos de decadência, estão de novo reavivadas com o turismo e com algumas formas de comércio. A antiquíssima Trancoso, terra do Bandarra, a isolada Pinhel, ("guarda-mor de Portugal", cidade desde o século XVIII e antiga diocese), essa extensa fortificação que é Almeida, Sortelha saída da rocha, o Sabugal, o seu castelo das cinco quinas, as suas capeias arraianas, que têm lugar nesta altura nas aldeias do concelho, e a serra da Malcata, a vigia dos Castelos de Celorico e de Linhares, a fortíssima Sé da Guarda, a dominar a cidade, rodeada por casas nobres, torreões, a judiaria e a taberna do Benfica, as velhas aldeias fortificadas entre a Guarda e Vilar Formoso, Castelo Rodrigo, a pequena Ávila, lá em cima do distrito e do monte que coroa, com as ruínas do palácio de Cristóvão de Moura como se de um chapéu se tratasse, e antes, a aldeia abandonada do Colmeal, cujos habitantes foram despejados num dos mais insólitos casos judiciais, onde agora se constrói um "countryside hotel". Sim, isso tudo e muito mais é a Beira Alta, e só no distrito da Guarda. E ao lado ainda há Espanha e a muitas vezes esquecida mas muito recomendável Ciudad Rodrigo. São os "meses de inferno", mas suportam-se mais do que os meses de Inverno.





Um comentário:

A.Teixeira disse...

Por ter mencionado a Sé da Guarda e por ser detalhe que creio lhe agradará, faço minhas as notas de quem me chamou originalmente a atenção para a dificuldade suplementar do que foi esculpido em pedra naquele edifício, dado que o material de construção é granito. Ora o granito tem uma dureza entre 6 (feldspato) e 7 (quartzo) na Escala de Mohs e é por isso 8 a 10 vezes mais resistente do que o calcário (3 na mesma Escala) onde costumam ser talhadas as esculturas que estamos habituados a apreciar noutras construções equivalentes da mesma época.

Não ressalta à vista mas é um detalhe técnico que tem o seu valor.