domingo, junho 19, 2016

Uma semana que se prevê quente


A semana que amanhã começa promete ser quente. De facto, a meteorologia prevê a subida acentuada das temperaturas, consentâneas com o início deste Verão adiado. Em vésperas de S. João não se pedia menos. Mas espera-se que suba ainda mais em Londres, Edimburgo e Madrid. E por arrasto, em toda a Europa.

Chegou a semana tão nervosamente aguardada pelo referendo à permanência do Reino Unido na UE. As sondagens falharam redondamente nas legislativas do ano passado, mas ainda assim são um indicador a ter em conta. Até há dias davam uma crescente preferência pelo "não", o tão badalado Brexit, mas o assassínio brutal da deputada trabalhista pró-europeia Jo Cox por um alucinado de extrema-direita parece ter invertido as coisas e dado alento ao "sim" à permanência. As causas emocionais não ganharão eleições, mas podem ajudar a baralhá-las. Nunca se despreze as ondas de choque que podem provocar - e quanto mais perto dos actos, mais levantam. Mas o risco do "não" e do consequente Brexit continua a ser bem real. É-me para mim difícil perceber o  porquê desta opção, salvo, lá está, por razões emocionais, nacionalistas, e de uma mistura da velha desconfiança britânica do "continente" com os anticorpos provocados nos últimos anos pelas instituições europeias. Os britânicos têm muito a perder caso saiam mesmo da UE: irrelevância da City, fim ao livre trânsito de mercadorias, pessoas e capitais, isso numa altura em que o velho império está há muito perdido (e em muitos casos o suplanta) e os Estados Unidos já não têm o mesmo interesse em ver o Reino Unido como aliado preferencial (preferem vê-lo na UE). Pior: pode significar o fim da união. A Escócia por certo não perderá a oportunidade de reivindicar a adesão à UE e de convocar novo referendo. E neste, a independência ganharia com toda a certeza. É portanto com o espectro do declínio (e futura desagregação?) da UE e com o fim do Reino Unido que nos deparamos.


Aqui ao lado, em Espanha, preparam-se novas eleições, cujos resultados prometem não ser substancialmente diferentes dos de Dezembro, salvo pela troca de esquerdas: o PSOE poderá ficar em terceiro, atrás da coligação de esquerdistas radicais com comunistas Unidos Podemos. Ou seja, mais uma vez não haverá maioria para ninguém. O PP, sempre enredado nos seus incontáveis casos de corrupção e num conjunto de dirigentes gasto e ultrapassado (note-se que em trinta anos o partido teve apenas 3 líderes), permanece à frente, mas longíssimo da maioria, e o Ciudadanos, que poderia ser um fiel da balança com gente nova e propostas arejadas, também não parece ganhar muito. A tragédia maior é o afundamento do PSOE em detrimento do Juntos Podemos, em que não faltam militantes que publicamente usam slogans como "(as igrejas) ardereis como em 1936". Isto a semanas de se passarem oitenta anos do pronunciamento que levou à horrível Guerra Civil.

Gozemos o calor e os santos populares, enquanto nos é permitido. Talvez o Verão seja quente mas não insuportável.

                        (Campanha eleitoral em Baeza, Andaluzia, Dezembro 2015)

PS: e claro está, como hoje lembra um dos nossos periódicos na sua versão online, para subir ainda mais, temos o decisivo confronto da Selecção Portuguesa contra a surpreendente Hungria, sem margem sequer para empatar. Se houver alguma competência no ataque e não aparecer o espírito dos "invencíveis magiares" dos anos 50, a qualificação é possível. A alternativa, depois de se cair num dos grupos mais acessíveis do torneio, é demasiado humilhante.

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