domingo, julho 31, 2016

Boris at the Foreign Office


Uma das situações mais bizarras das últimas semanas, que permitiu um mínimo de discussão mas que acabou submergido na torrente de acontecimentos simultâneos, foi a nomeação de Boris Johnson para Secretário de Estado dos Assuntos Estrangeiros. Ele, que quase se guindou à liderança dos conservadores - e do governo da Rainha - com as portas escancaradas, na sequência do referendo do Brexit, tinha fugido da luta, aparentemente destruindo a sua carreira política quando estava tão perto do topo, dando uma imagem de fuga às responsabilidades e desiludindo quem nele tinha apostado. Esta promoção não deixa de ser surpreendente, porque é dos mais inesperados e rápidas regressos à ribalta depois de uma travessia no deserto, também ela das mais rápidas. O ex-editor da Spectator ocupa um cargo que lhe dá ainda mais visibilidade do que o de mayor de Londres. Terá oportunidade de fazer valer as suas reais capacidades executivas, e já agora, a sua bagagem da História e a sua percepção dos acontecimentos. O seu maior problema é a irreverência - paradoxalmente também a causa da sua grande popularidade - que lhe deixou um rasto de declarações muito pouco diplomáticas sobre variados estadistas ou candidatos, como Hillary Clinton, Donald Trump, e sobretudo, Erdogan. Os encontros bilaterais com qualquer desses parceiros serão previsivelmente tensos, e talvez por isso o seu ministério tenha ficado despojado da questão do Brexit, entregue a outro órgão criado de propósito.

Apesar de conhecida a propensão de Johnson para a irreverência (ou para o puro disparate), algumas das reacções à sua nomeação revelaram bem o grau de arrogância e de ressabiamento com que alguns responsáveis da UE lidaram com o referendo britânico, a começar pelos responsáveis da política externa dos dois países que julgam dever ser eles a controlar a UE, a França e a Alemanha. Ayrault disse tratar-se de "um mentiroso", o medíocre Steinmeier afirmou que a nomeação era "escandalosa". Música para os defensores do Brexit, que ganham mais pretextos contra a intromissão em assuntos exclusivamente reservados ao Reino Unido, neste caso a escolha dos membros do governo. E vindo da França e da Alemanha, ainda mais desconfiança provocam no lado de lá da Mancha. Sim, o Brexit também é por culpa de gente desta. Repito: foram reacções à sua nomeação de uma pessoa com quem forçosamente se terão de encontrar, não meras críticas antes de se saber que ia ser nomeado, o que diz bem da qualidade de alguma euroburocracia reinante. E não, não eram do tão criticado PPE, antes dois socialistas, como aliás o é Dijsselbloem. Estou curioso para ver os primeiros encontros de Boris com esta gente.

Entretanto, a Grécia tem voltado ao ataque para que os frisos do Pártenon que Lord Elgin levou para o Museu Britânico há duzentos anos sejam devolvidos à proveniência. É um pedido justo, que teve o apoio recente do Parlamento Europeu. Será mais um pretexto para o Brexit. Boris tem sido um fervoroso defensor da manutenção dos mármores em Londres, e as pressões europeias podem tê-lo ajudado a optar definitivamente pela saída da UE. Certo é que o pedido dos gregos é antigo e que o próprio Boris sabe-o bem, já que na sua juventude em Oxford teve de encarar a máxima defensora do regresso dos frisos, a mítica Melina Mercouri. como se sabe,  não se deixou convencer, mas pela expressão não deixou de se sentir intimidado pelos argumentos da combativa ministra grega da cultura.
 

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