sexta-feira, outubro 06, 2017

Análise global aos resultados autárquicos


Algumas análises das autárquicas feitas pelos actores políticos pecam pela ligeireza. Não é lá muito rigoroso dizer-se que "á uma vitória dos partidos que sustentam a maioria e uma derrota para a direita" (e menos ainda a lengalenga da CDU do "reforços de posições", que finalmente tiveram de ultrapassar). A verdade é que o PS é o grande vencedor e o CDS o outro vencedor. O PSD e a CDU são os grandes derrotados e o Bloco, se ganha um lugar em Lisboa, fica a milhas de reconquistar Salvaterra e redemonstra não ser um partido com implantação municipal.

O discurso de derrota do PSD constituiu um autêntico pré-anúncio de demissão de Pedro Passos Coelho. O agora líder cessante estava há muito desgastado, o aparelho partidário e os "barões" estavam saturados e o seu prazo de validade já tinha passado. As autárquicas foram o golpe final. Se pensou que os resultados seriam menos negativos, então não lhe restaria mesmo qualquer alternativa. Não só foram péssimos como o PSD perdeu o controlo nas grandes áreas urbanas e a indefinição sobre os candidatos a Lisboa revelaram-se ainda mais desastrosas do que o inicialmente previsto. Nada se salvou. Finalmente percebeu que a saída era inevitável. Entretanto, começou a guerra da sucessão, que poderá ser curta se só Rui Rio, o único confirmado, avançar.

O PCP perdeu muito, em sítios inesperados (Almada acabou por ser a estocada final, já que a sua perda por escassos votos para Inês Medeiros só se confirmou quando a noite já ia avançada). Perdeu câmaras simbólicas, coisa que ninguém apostaria, cerca de dez, perdeu votos, percentagens, vereadores, juntas de freguesia. Desta vez não houve "discurso de consolidação" que lhes valesse. E as reacções não têm sido nada boas. Ainda por cima, quando o PS tanto evitou bicadas aos socialistas. Mesmo Assim, Jerónimo acusa o PS e o BE, ameaça não fazer qualquer acordo nas câmaras que perdeu, e não certamente por acaso já se ouvem ecos de greves anunciadas convocadas pela CGTP.

O CDS, sozinho, não teve grande votação, mas se juntar uns pontos das coligações com o PSD obtém números razoáveis. Pedia-se que Assunção Cristas tivesse mais de 10% em Lisboa e que mantivesse as cinco câmaras. Conseguiu mais e 20% na capital, o melhor de sempre deste partido (em coligação com MPT e PPM), ainda melhor que o também segundo lugar em 1976 e que permitiu a Abecassis encabeçar a AD depois vencedora, e adicionou Oliveira do Bairro à contabilidade (mantendo, como sempre, Ponte de Lima). O CDS confirma a inversão iniciada em 2013 da queda acentuada na política local que se verificava desde os anos oitenta e Cristas confirma e reforça a sua liderança e eclipsa a imagem de Paulo Portas, cortando as últimas amarras. É doravante a líder quase incontestada do partido. 

O Bloco confirma-se como pequena força autárquica: teve mais votos e mais vereadores, ganhando a aposto Ricardo Robles em Lisboa e tendo contribuído para a derrota da CDU em Almada, mas falhou a entrada na executivo no Porto e ficou a anos-luz de reconquistar a sua antiga câmara de Salvaterra de Magos. Terá de esperar por outros "desertores" de esquerda.

Os independentes deram cartas. Rui Moreira ganhou de novo e com maioria absoluta, Isaltino arrancou Oeiras ao anterior movimento que o apoiava, em Portalegre ou Estremoz mantiveram as respectivas câmaras eme locais como Águeda ou Terras de Bouro conquistaram novas. "Verdadeiros" ou gente que bateu  porta com o ex-partido e regressa para se vingar, as candidaturas independentes vieram para ficar.

E o PS? O PS ganhou. Largamente. Maior vitória de sempre numas autárquicas, maior número de câmaras, de vereadores, de deputados municipais, de juntas de freguesia, manteve concelhos como Lisboa, Sintra, Gaia, Funchal, Gondomar, Coimbra e Barcelos, reconquistou Matosinhos, Beja, e Chaves, entre outros, e alguns municípios onde nunca tinha ganho, como Almada, Mirandela, Paredes e Marco de Canaveses. Só no Minho é que as coisas correram pior, com a perda de alguns concelhos. O problema é que a vitória poderá ter sido demasiado grande e provocado feridas na Geringonça, nomeadamente no PCP, que já vocifera e prepara algumas greves via CGTP. É esperar para ver.


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